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  • Marcia Rangel Candido

REBOJO


Sem título, 2016. Tinta óleo, bastão oleoso, giz pastel seco e giz pastel oleoso sobre papel. 115 X 193 cm.

O leque. O leque imóvel como objeto. O leque move com a ação de alguém, ou de algo. O vento move o leque e o leque move o ar, assim venta também. São possibilidades de leques e o contrário disso: leques de possibilidades. Desenhos de leques. Desenhos de leques no papel. Desenhos de leques de papel. Desenhos de formas de leques. O leque é um desenho. O vento desenha. O leque desenha. O vento é um desenho. Desenho é um sopro. Desenho é movimento. Desenho é quietude. Se desenha tudo. Se desenha a palavra “tudo”. Tudo cabe na palavra tudo, tudo cabe no desenho. Tudo cabe no desenho? Leques. São leques abertos. São desenhos de conchas. O desenho é um leque aberto. Não. É um leque fechado. Um triângulo isósceles. Ambos desenho(s). São linhas que formam o zigue-zague do leque. São linhas que formam as dobras sanfonadas. São dobras sanfonadas. São linhas sonoras. Como se pensa o leque? Como desenho. Como desenho? Linhas de pensamento. Com linhas, desenho. Escrevo desenho. Escrevo leque: desenho. Desenho a escrita de escrevo. Escrevo a escrita de desenho, com leques. Ao poupar o movimento de abano, o leque se fecha, o vento cessa. Eu fecho o leque. Termino o desenho. É paradoxal. O desenho não tem limite (mas tem), não tem fim. Ele tem um início. Um não, mais de um. Desdobramentos pela história, árvore genealógica. O desenho começa do mesmo jeito pra todo mundo. Garatujas. Passado o tempo ele se transforma. Para algumas pessoas ele se firma, para outras esvai. Mas ele é intrínseco ao ser! É um processo nunca desconectado das pessoas. É um processo. Nosso corpo muda, se transforma, assim como nosso modo de agir e pensar. Não há um corpo novo para o cérebro. Há um desenho que transforma o corpo. Um corpo que muda. Um desenho que muda, com a gente, juntos. Desenho é corpo também. É um corpo dentro do corpo. Dentro do meu corpo o desenho. Um corpo que coloco pra fora. Um corpo que desenha um corpo. Sobre o outro início do desenho, lá com os seres humanos pré-históricos, riscos em cavernas. Se desenhava sem saber o que era desenho. Desenhava antes da palavra desenho. Desenho antes da escrita. Desenho comunica sem palavras. Desenho anuncia, informa, desforma, desinforma. Desenho mente. Desenho mente. Sim, duas vezes, para a variação de mentir e mental. Desenho tempo. Teve um tempo que se desenhava. Inscrições rupestres. Há também o meu início de desenho. Ou seria o meio? O caminho. O dia começa e acaba? Se o tempo não pára, como começa o desenho? Ele não termina, é uma constante. Meu desenho não pára. Se move e anda comigo. Dorme comigo. Ele vive. Tem memória. É eterno até no apagamento. Se apaga o desenho desenhando. Mas como vive um desenho guardado? Não vive. Confronto existencial. Ele existe sem existir. É o contrário das almas penadas. Uma alma penada de matéria. Meus desenhos são almas penadas. Desenhos de apagamentos. Processos de apagamentos. Desenhos solitários. Um monólogo. “A ausência em si”.

Raíssa Arruda é artista visual, formada pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.

Contato: raissa.arruda.medeiros@gmail.com

 

Editora responsável: Natasha Bachini

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