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DICAS DE LEITURAS DA EQUIPE HaoS, n.4


Sem título (tinta acrílica), por Luísa Acauan Lorentz [1]




Como parte da comemoração de dois anos da Horizontes ao Sul, inauguramos uma contribuição coletiva de nossa equipe editorial. Nossa coluna de indicação de leituras pretende reunir, mensalmente, um conjunto de indicações de livros, seguidas de um breve comentário sobre cada obra. Esperamos que gostem!


Confira abaixo a quarta edição das dicas da Equipe HaoS:




O Praça Quinze

Paula Saldanha


No domingo, dia 15 de novembro, passei pela Praça XV, no centro do Rio de Janeiro. O local, que por uma série de motivos é um dos mais importantes da história brasileira, estava abandonado, mal iluminado e repleto de pessoas em situação de vulnerabilidade. Minha mente foi imediatamente lançada ao ano de 1998, quando li pela primeira vez O Praça Quinze, da jornalista, escritora e ambientalista Paula Saldanha. O livro infanto-juvenil conquista os jovens leitores com uma narrativa pujante que expõe a falsa liberdade de um menor de idade abandonado que, por não ter para onde ir, circula solto pela cidade, em especial pelas praças do Centro. Em uma das suas aventuras, o menino Praça Quinze visita a Ilha de Paquetá. Uma década depois, quando lá pisei pela primeira vez, foi como se eu já conhecesse a pequena comunidade incrustada na Baía da Guanabara. Apesar de ter sido lançado em 1981, “O Praça Quinze” segue sendo um livro tristemente atual, uma vez que trata da desigualdade que segue dividindo e degradando a cidade do Rio de Janeiro.


Por Rafael Rezende




Ruína y Leveza

Julia Dantas


Ruína y Leveza é o romance de estreia de Julia Dantas. O enredo trata de Sara, uma jovem publicitária que cresceu em Porto Alegre e, por diferentes questões profissionais e afetivas - e com possibilidades materiais para isso -, decide viajar pela América do Sul. Entre os (des)caminhos da viagem, momentos que antecederam a decisão de voar para Lima, e relatos de sonhos, vemos seu presente e seu passado se entrecruzarem constantemente - em um quebra-cabeça que ela mesma vai montando. Os lugares pelos quais passa, as diversas situações que vive na viagem e as pessoas com quem cruza, em especial o argentino Lucho, fazem com que a jovem de classe média seja capaz de rever suas (in)certezas e ressignificar sua trajetória. Ao longo das poucas mais de 200 páginas, Sara nos conduz, em primeira pessoa, por minas, estradas, ruínas e cidades coloniais peruanas e bolivianas, mas também pelo Bom Fim e pelo centro histórico de Porto Alegre. A leitura, com escrita atraente e fluida, nos coloca frente a novos horizontes - reais e simbólicos - da personagem. A música Petalo de Sal, do argentino Fito Paez, faz parte do romance. Uma dica adicional, portanto, que pode ser escutada aqui.


*Ruína y Leveza foi publicado em 2015 pela Dublinense - selo Não Editora. Este selo é dedicado à literatura brasileira - “mas não qualquer literatura brasileira. Queremos lançar obras que não sigam os padrões editoriais do mercado brasileiro e colocar nas estantes livros que você quer ler, mas ainda não sabe disso”, dizem em seu site. Com este livro, Julia Dantas foi finalista do Prêmio Açorianos de Criação Literária e do Prêmio São Paulo de Literatura.


Por Vitória Gonzalez




Mars Club

Rachel Kushner

Sinto o ar de outro planeta.

Rostos afáveis que se voltaram para

mim agora somem na escuridão


O trecho supracitado, que abre o livro Mars Club, da autora estadunidense Rachel Kushner, anuncia a virada em uma trajetória individual, mas também coletiva. Embora o fio condutor da obra de Kushner seja o percurso de apenas uma protagonista, intitulada Romy Hall, é a partir dela que podemos nos aproximar de uma série de contextos de mulheres encarceradas, assim como das vidas que as cercam. O universo que Kushner constrói nas 340 páginas que compõem a ficção não é tão distante da realidade brasileira. Por aqui, assim como nos Estados Unidos, há encarceramento em massa, violência de gênero, injustiças do sistema penal, transfobia e racismo, ainda que não prisão perpétua. Para Hall, a liberdade deixou de existir como um horizonte possível e as razões para isso vão se mostrando, ao longo da trama, bastante controversas. O livro é uma excelente leitura tanto para as pessoas mais entendidas das agruras do encarceramento feminino, como para as mais distantes do tema. A autora aliou pesquisa dedicada a talento de escrita, melancolia e tragédia a certos lapsos de beleza nos sentimentos. A riqueza da diversidade humana dos personagens pode ser exemplificada nos retratos conferidos à maternidade. Não há uma natureza específica nesta representação. Entre as mães que conhecemos no livro, vamos do infanticídio ao mero descaso, do amor interrompido à imagem de completude. “Eu dei a vida a ele. É bastante pra se dar. É o oposto de nada. E o oposto de nada não é algo. É tudo” (p.340). A luta contra “não ter alternativa”, mesmo quando não corroborada pela crença de verdadeira mudança, é, talvez, uma das maiores forças da história. Hall não tinha (e nem estava cercada por) ilusões sobre o mundo. Ainda assim, como @s leitor@s verão ao final, buscou uma fuga - imaginada ou real.


Por Marcia Rangel Candido




Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade

bell hooks

Reencontrar-se na sala de aula é um desafio. Repletas de barreiras simbólicas e materiais, problemas estruturais dos mais diversos e mecanismos perversos de desencorajamento e submissão, as instituições educacionais tendem a ser reprodutoras de desigualdades sociais. Para que isso não aconteça é preciso coragem e engajamento. Em Ensinando a transgredir, livro lançado originalmente em 1994, mas reimpresso este ano no Brasil pela editora Martins Fontes, bell hooks apresenta, por meio de experiências pessoais nas mais diversas instâncias vinculadas à educação, reflexões preciosas. A partir de um diálogo crítico com a pedagogia engajada de Paulo Freire e imersa nos debates feministas, a autora devolve à sala de aula aquilo que lhe é essencial: lugar de encantamento e prática libertária.


Por Leonardo Nóbrega





NOTAS


[1] Agradecemos à Luísa Acauan Lorentz, internacionalista, socioambientalista e artista-arteira que gentilmente fez esta pintura sob encomenda para nossa coluna.



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