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  • Marcia Rangel Candido

NO MEIO DO CAMINHO TINHA UMA FOTO OU IMPRESSÕES SOBRE “EU, MINHA MÃE E WALLACE”, DE EDUARDO E MARCOS


[Comentário da editora: o filme "Eu, minha mãe e Wallace" ganhou, no último domingo, três Candangos (como são nomeados os troféus) na noite de premiação do 51º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro: melhor curta-metragem pelo júri popular, melhor atriz coadjuvante em curta-metragem para Noemia Oliveira e o prêmio Zózimo Bulbul de melhor curta-metragem. Esse último é novidade no Festival e foi concedido em parceria e a partir de um júri escolhido pela APAN – Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro e do Centro Afrocarioca de Cinema, tendo como baliza dois elementos: o corpo negro na frente e por trás das câmeras; e a inovação estética e narrativa na abordagem das subjetividades negras].

Os irmãos Carvalhos receberam o Candango de melhor direção e o Prêmio Canal Brasil no 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, de 2017, com o curta-metragem “Chico” (2016). Selecionados, novamente, em 2018, com seu novo curta: “Eu, Minha Mãe e Wallace”, o filme foi exibido na última sexta-feira, dia 21 e remete à história de uma fotografia que revela uma mãe solteira, um pai ausente e uma criança. Em linhas gerais, um homem (Fabrício Boliveira) que sai da prisão, após 11 anos, resolve conhecer a filha (Sophia Rocha) que nunca viu. A menina também não sabe que tem um pai. A intermediação se dá com a ajuda de sua ex-namorada e mãe da menina (Noemia Oliveira). O filme fez sua estreia esse mês no Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul – Brasil, África, Caribe – 11 anos.

Os corpos do ex-casal, ao longo do filme, permanecem em extrema tensão. Corpos que um dia se conheceram e se entrelaçaram, mas que agora são estranhos um ao outro. Essa tensão corporal também se estabelece, de forma muito engenhosa, no espaço em que o filme se passa, em quase sua totalidade: em uma pequena cozinha. A direção de fotografia e operação de câmera fica sob o espetacular trabalho, da também diretora, Safira Moreira (“Travessia”, 2017).

Outro ponto interessante que está fora do filme e, ao mesmo tempo dentro, é que existe o simbolismo entorno da fotografia. Coincidentemente ou não, o filme de Safira Moreira também se utiliza de uma fotografia inicial para o desenvolvimento da narrativa que o filme se propõe a apresentar. Com formas e objetivos diferentes, o produto final de ambos é o registro de uma foto, sem que antes possamos entender o que a produção dela representa para a vida dos personagens e, consequentemente, para o seu desenvolvimento dentro da própria trama.

O trabalho de direção exercido pelos irmãos Carvalho, na construção da tensão entre os atores, e a forma com que Safira Moreira consegue captar isso em imagem, em relação ao espaço cênico, cria o clima que dá um tom muito potente ao curta. Com poucas falas, o filme constrói a sua potência no não dito, nos olhares, nos ruídos, a partir do uso da linguagem cinematográfica de forma precisa. A fotografia, objetivo da reunião dos três personagens, funciona como uma foto-presente, para compensar um passado perdido, ou melhor, um passado que não se construiu, e vislumbrar lembranças para um futuro nada definido. Um dos melhores filmes que assisti nessa edição do Encontro de Cinema Negro e ainda tive o privilégio de participar de uma conversa com os diretores.

EU, MINHA MÃE E WALLACE

Direção: Irmãos Carvalho Ficção, 23 min, 2018, RJ, livre Elenco: Noemia Oliveira, Fabrício Boliveira, Sophia Rocha e Robson Santos.

Leonam Monteiro é licenciado em História pela UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, mestrando em História (PPHR/UFRRJ) e integra a linha de pesquisa Relações de Poder, Linguagens e História Intelectual e o Núcleo de Estudos da Política e História Social (NEPHS-UFRRJ). Foi membro do coletivo de produção cultural Seu Gusta ligado ao DAC - Departamento de Arte e Cultura da Pró-Reitora de Extensão e é responsável pelo cineclube CineCasulo (2015-2016). Atualmente, desenvolve pesquisa de mestrado sobre o cinema cubano e sua relação com os processos de construção identitárias (1959-1968).

Contato: monteiro.leonam@gmail.com

 

Editora responsável: Samantha Brasil

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